segunda-feira, 14 de setembro de 2009

XI - confissão...

Ainda me lembro do dia em que percebi uma mistura de luz e sombra estonteantes em teu olhar
Do dia em que o que há de luz em mim se encantou pelo que havia de escuridão em ti
E o que havia do mais profundo negro em minha alma ansiou desesperadamente pela tua luz
Desde aquele dia sinto-me aspirando o ar numa noite primaveril
Onde o perfume dos jasmins é tão inebriante
E o silêncio da própria noite é desesperador
E, desde aquele dia, tenho lutado
Luto todos os dias
... para querer-te um pouco menos
... sentir-te um pouco menos
... amar-te um pouco menos
Tentei matar-te um pouco todos os dias
Mesmo sabendo que ao fazer atentava contra mim mesma,
já que privar-me de ti é o mesmo que negar ar aos meus pulmões
Mas tentei fazê-lo
E quanto mais tentei
Mais incapaz me senti
E quando me vi a desenhar teus traços um a um
Vi quão vã minha tentativa

No primeiro instante
Senti-me como um suicida que fracassou
Um pouco aliviado e feliz com o próprio fracasso
Um pouco melancólico por ainda do mesmo modo viver
Depois...
... um tanto nietzscheana
descobrindo tanto amor na própria negação
Nunca ousei pensar amar tanto
Nunca imaginei que o amor pudesse não doer
... não machucar
... não exigir
... não questionar
... apenas agradecer pelo privilégio de existir
Mas confesso que por amar sem exigir
Sufoco todos os dias o querer
Apenas me conformo com o não poder
Confesso que não tento mais não pensar...
... ou menos te amar
Apenas aguardo o dia em que...
- quando racionalizar finalmente que não posso publicar meu amor -
... também conformar-me-ei com tua ausência